
A ideia era direcionar um novo olhar sobre a história de Feira de Santana. E o médico, professor, pesquisador e escritor João Batista de Cerqueira conseguiu levar para a Câmara Municipal informações curiosas e muitas delas desconhecidas da historiografia sobre a cidade. A palestra foi durante a Sessão Especial comemorativa dos 192 anos de emancipação política, na tarde desta quinta-feira (18). A solenidade, que lotou a Casa da Cidadania, contou ainda com performances musicais e literárias
Emocionado por retornar à Casa Legislativa, onde exerceu mandato de vereador, João Batista disse que “pensar em fazer o bem, é o princípio fundamental da vida”, estendendo essa ideia à função pública. João Batista lembrou a instalação da primeira Câmara Municipal, em 18 de setembro de 1833, com uma composição de sete vereadores. À época, eram três freguesias, São José das Itaporocas, Santana do Camisão (Ipirá), Santíssimo Sacramento de Jesus (Irará).
Ele começou a falar das origens da cidade destacando que “nunca é tarde para lembrar os pioneiros”. Citando o escritor francês Denis Fustel Coulanges, autor do livro Cidade Antiga, João Batista disse que o passado não desaparece. “O que precisamos é olhar o mesmo ambiente, de forma diferente”, ensinou, ao citar o Monsenhor Renato Andrade Galvão, figura grandiosa que tornou-se Cura da Catedral de Santana. “Ele olhou Feira com outros olhos”, afirmou, ao contar que coube ao religioso pesquisar a história e descobrir que houve desbravadores bem antes do que consta nos dados oficiais.
“A civilização começou por volta de 1612, quando o mestre de campos Antônio Guedes de Brito herdou as terras da antiga Fazenda dos Tocós, fato anterior à chegada do casal Domingos Barbosa de Araújo e Ana Brandoa à Fazenda Santana dos Olhos D’Água, contou João Batista. Com a sua morte, em 1695, João Peixoto Viegas adquiriu três Sesmarias de sua herança e se mostrou um grande empreendedor, ao implantar as culturas do fumo e da mandioca, bem como a pecuária de corte. “ Uma dessas propriedades foi comprada por Domingos Barbosa e Ana Brandoa”, contou.
João Batista destacou ainda fatos importantes como a contratação do Major Pedro Gomes pelo então governador Geraldo Brasil, em 1657, para abrir uma estrada, de Cachoeira a Serra do Orobó, perto de Ruy Barbosa. “Os portugueses não permitiam que tivéssemos estradas, tínhamos veredas”, explicou. Mereceu destaque também a doação de 100 braças de terra, por Domingos Barbosa de Araújo, no Alto da Boa Vista, onde hoje é a praça Renato Galvão, e novos caminhos que surgiram depois, em direção ao Rio São Francisco. “Feira sempre foi entroncamento, desde o século XVI”, sentenciou o palestrante.
Diversidade e acolhimento
Um dos poucos vereadores feirenses, o presidente do Legislativo, Marcos Lima (União), ressaltou a importância do trabalho diário pelo crescimento da cidade e a melhoria da qualidade de vida da população. “São 192 anos e o objetivo é chegar aos 200 anos muito melhor”, disse o vereador que exerce o quarto mandato e que se orgulha de presidir a Casa. “Feira é uma cidade acolhedora, quem chega se encanta e investe”, afirmou, destacando o potencial da cidade e cobrando o retorno por parte dos governos estadual e federal.
“Essa terra trata tão bem a todos que ninguém quer ir embora”, disse o prefeito José Ronaldo, ao analisar uma cena que presenciou na missa pelo aniversário da cidade. Segundo ele, estavam no altar o Arcebispo Metropolitano Dom Dementino de Castro, que nasceu em Vitória da Conquista, o padre Paulo de Tarso, de Irará, e o padre Julivaldo, de Ouriçangas. Também citou o local de nascimento de vários vereadores e citou até os convidados que se encontravam na solenidade, e que são de várias partes do país. O próprio prefeito é natural de Paripiranga.
Definindo cidade “lugar de gente, mistura de raças e religiões”, José Ronaldo lembrou a sua chegada a Feira e Santana, pelas mãos de Faustino Dias Lima, e da relação de amor e respeito que tem com a cidade, ao pedir um presente de todos os feirenses, por nascimento ou adoção: “Não joguem lixo na rua. Se aprendermos a não fazer isso, nossa cidade será muito melhor”, defendeu. Na mesma linha do compromisso com a cidade que o adotou, o deputado estadual José de Arimatéia, que também foi vereador, fez uma oração em agradecimento.
Vídeo, música e poesia
Um vídeo reunindo depoimentos de pessoas de destaque em várias áreas foi exibido durante a Sessão Especial. Dentre elas, o cordelista Franklin Maxado, a religiosa Irmã Rosa Aparecida, a cantora Céliah Zaiin, a escritora Zezé Negrão, a professora Lélia Fernandes, a produtora cultural Lurdes Santana, a historiadora Lia Célia Pires Leal, membros do bloco afro Flor de Ijexá, Jorge do Licuri, e Quixabeira da Matinha. A mensagem deixada foi: todos os caminhos levam a Feira de Santana, o meio do mundo.
Os hinos nacional e de Feira de Santana foram executados pela Banda da Polícia Militar, proporcionando momentos de emoção ao grande número de pessoas que lotaram o plenário e a galeria da Casa da Cidadania. A tarde contou ainda com as apresentações dos cantores Libú do Reggae, interpretando uma música de Jorge de Angélica (Bahia Negra), já falecido, e Eliane Araújo, cantando um louvor, e Zezé Negrão, artista plástica autora do quadro de Maria Quitéria, que declamou um poema sobre Feira de Santana, terra mãe.
Os trabalhos foram conduzidos pelo presidente da Casa Legislativa, vereador Marcos Lima, que compôs a Mesa de Honra ao lado do prefeito José Ronaldo de Carvalho; o vice-prefeito e secretário Municipal de Educação, Pablo Roberto Gonçalves; o primeiro vice-presidente da Câmara, vereador Pedro Américo; o procurador Geral do Município, Guga Leal; o deputado estadual José de Arimatéia; e o palestrante João Batista de Cerqueira.
Fonte: Câmara de Feira de Santana