Dois metros e 11 centímetros de altura podem não impressionar tanto hoje, com o processo de crescimento físico da população brasileira, mas há meio século, alguém com esse ‘tamanhão’ não passava despercebido e era preciso ‘olhar pra cima’. O feirense Kleber Vitória fez dessa altura seu trunfo para chegar à seleção brasileira de basquetebol e se tornar vice-campeão mundial.
Modesto e tranquilo, nunca fez questão de fama — embora a merecesse pela sua trajetória no esporte nacional — Kleber Costa Vitória, o ‘Klebão’, apelido justificado pelos 2 metros e 11 centímetros de altura, alcançou a glória dentro das quadras envergando camisas dos mais famosos clubes do país, sem mudar a personalidade. Filho de Antônio Alves Vitória, o popular Ligosa — apelido que ganhou devido à sua semelhança com o ator de Hollywood Lee Gossett —, Kleber, além de alto como o pai (na verdade, bem mais alto), herdou-lhe a pacificidade, vivendo sem ostentação ou vaidades.
Enquanto seu pai, Ligosa, e seu irmão Delamare Costa — também bastante alto, dono de bela voz grave e capacidade para imitar colegas famosos —, dedicavam-se ao Serviço de Alto-Falantes A Voz da Princesa, que tinha estúdio no centro da cidade e serviço móvel (carro de som), o garoto Kleber tomou rumo diferente. Devido à altura, começou a praticar basquete no Feira Tênis Clube com o irmão Delamare, que não se interessou muito e logo desistiu. Em 1975, o professor Nelson Nascimento, renomado pelo seu trabalho no esporte de quadra em Salvador, passou a dividir seu tempo com o Feira Tênis Clube e ficou admirado com o garoto de 14 anos e mais de dois metros de altura, passando a orientá-lo. Com seus conhecimentos técnicos, boa vontade e dedicação, Nelson Nascimento deu relevante contribuição ao esporte feirense enquanto aqui esteve e, em especial, a Klebão, que até hoje lhe é extremamente agradecido.
Ainda muito novo, Klebão integrou o time titular de basquetebol do Feira Tênis Clube, mostrando com a rápida evolução técnica a absorção dos ensinos que lhe eram ministrados pelo professor Nelson — muito mais que um técnico, um amigo e incentivador. E não poderia ser diferente: o Sudeste do país foi o seu caminho. Corinthians, Monte Líbano, Francana, Rio Claro — principais equipes de São Paulo. Esteve também no Minas Tênis Clube, de Minas Gerais, Joinville, de Santa Catarina, e Paissandu, do Pará.
Melhor pivô do país, consagrado pela altura e técnica apurada, Klebão foi titular da seleção brasileira juvenil e, em seguida, foi guindado ao escrete principal, ostentando, dentre outros importantes títulos, o de campeão sul-americano e vice-campeão mundial de basquete. Interessante é que, na equipe brasileira vice-campeã do mundo, estava o famoso Oscar, um dos maiores ídolos desse esporte no Brasil que, com seu 1,90 metro de altura, parecia ‘baixinho’ ao lado do feirense — 21 centímetros mais alto.
Aos 30 anos, julgando-se ‘velho’ para o esporte, Klebão resolveu deixar as quadras e retornar a Feira de Santana e àquilo que seu pai fazia com tanta dedicação: o alto-falante A Voz da Princesa, instalado no estádio Joia da Princesa, como no tempo do sempre lembrado Ligosa, figura estimada na cidade pelas suas brincadeiras e extrema cordialidade. Klebão também assumiu o papel de DJ, sendo considerado ‘o maior DJ do mundo’ — marca que ele mantém, embora praticamente afastado da atividade.
Casado com dona Tereza Vitória, que também foi jogadora de basquetebol, o casal tem dois filhos: Klebinho, com 1,97 metro de altura, que teve boa passagem no esporte, mas não se interessou; e Marília, mãe de Guilherme, também muito alto como o avô. O antigo pivô da seleção brasileira de basquete pouco sai e jamais fala da sua vida vitoriosa no esporte, de suas conquistas nacionais e internacionais — a não ser quando é muito solicitado. Mais reservado ainda após um problema de saúde, Klebão continua sendo o mesmo garotão que começou nas quadras do Feira Tênis Clube, mas merece ser lembrado e homenageado pela Cidade Princesa, sua terra.
Por Zadir Marques Porto
