Raimundo Oliveira fez no rádio o que hoje se faz na televisão

O rádio – nas ondas Média e Curta – era o mais importante veículo de comunicação da época e fazia o que hoje faz a televisão. Só não contava com a imagem, mas contava com locutores de vozes e capacidade de comunicação privilegiadas. Ídolos que levavam centenas, milhares de pessoas aos auditórios e garantiam ouvintes fiéis. Raimundo Oliveira foi um desses, na extinta Rádio Cultura de Feira de Santana. Faleceu no mês de novembro, há 66 anos, mas merece ser lembrado.

Membro de uma família de pessoas privilegiadas pelo registro vocal – grave e melódico – e grande facilidade na comunicação, assim como os irmãos Dourival Oliveira (falecido) e Aristides, Raimundo Costa Oliveira, talvez mesmo não tendo fixação pela atividade, já que era um competente funcionário do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER), atual Denit, viu-se encaminhado para o microfone em uma época distinta, quando, sem os encantos visuais da televisão, o rádio, na frequência de Onda Média (OM), hoje Amplitude Modulada (AM), era o mais importante e empolgante existente no segmento das comunicações. Na outra ponta estavam os jornais impressos, mas a velocidade do rádio e a figura física do comunicador, aliada à sua voz, tornavam a disputa amplamente desigual.

O cenário era absolutamente diferente do atual. No Sudeste do país, as rádios Tupy, Tamoio, Mayrink Veiga, Continental, Guanabara, Nacional, Relógio, Bandeirantes, dentre outras, e no Nordeste a Clube de Recife e a Sociedade da Bahia apresentavam programações ricas, com locutores marcantes pela qualidade da voz e conhecimentos. As emissoras mantinham cantores contratados e até orquestras, propiciando ao público programas musicais e radionovelas, como fazem hoje as emissoras de televisão que, aliás, apenas repetem, de forma aprimorada, com moderna tecnologia e recursos visuais, o que o rádio fazia. Na década de 1950, novelas como O Direito de Nascer e Jerônimo, o Herói do Sertão fizeram enorme sucesso e depois foram levadas para a televisão.

Em Feira de Santana, a “guerra” pela audiência era travada de forma direta entre a Rádio Sociedade, surgida em 1948, e a Rádio Cultura, que veio dois anos depois, com um componente político-partidário: cada uma era ligada a um grupo político. Com um belo prédio próprio na Rua Geminiano Costa, dotado de grande auditório, a ZYN-24, a Rádio Cultura, “A emissora da família feirense”, levava vantagem na disputa. Os programas de auditório aos domingos e os musicais noturnos durante a semana eram marcados por absoluto sucesso.

Voz grave, enorme simpatia e um jeito peculiar de conversar, atributos natos de um comunicador, Raimundo Oliveira dominava a plateia na apresentação de programas como O Ouvinte é Quem Manda e Os Divinais, programa noturno exclusivo com o trio Os Divinais (Missinho, Dida e Valtinho), grupo considerado igual ao Trio Irakitan, na época o melhor do país. Aos domingos, Raimundo Oliveira conduzia o Domingo Matinal ao lado de seu irmão Dourival Oliveira e do garoto Itajay Pedra Branca. Era um programa de calouros e cantores da casa (considerados profissionais), como Geraldo Borges, Silton Brandão, Antonieta Correia, Miriam Arruda, Maria Luiza e Dilma Ferreira.

Era enorme a rivalidade entre as rádios Sociedade e Cultura, a ponto de determinados ouvintes de uma não sintonizarem a outra. Assim também procediam alguns locutores, que não concebiam trocar de microfone — coisa que foi se abrandando com o tempo. Mas Raimundo Oliveira foi homem de um só prefixo: a ZYN-24 Rádio Cultura de Feira de Santana, onde granjeou extrema popularidade. Isso foi perfeitamente constatado no dia do seu sepultamento, no Cemitério Piedade. Raimundo Costa Oliveira faleceu aos 31 anos de idade, em 11 de novembro de 1959. Há 66 anos, a cidade parou em sua homenagem.

Por Zadir Marques Porto

Fonte: Prefeitura de Feira de Santana

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