
Mesmo com diversas infrações de trânsito praticadas diariamente por condutores, Feira de Santana arrecada 58% menos do que Aracaju – cidade de porte semelhante – e 83% menos do que o estado do Paraná, cuja frota de veículos é similar. Os dados foram apresentados no documentário Indústria dos Infratores, exibido pelo jornalista e ex-secretário municipal de Cultura, Esporte e Lazer, Edson Borges, durante a sessão desta terça-feira (9) da Câmara Municipal.
Ao discursar em Tribuna Livre, ele questionou se o Município realmente enfrenta uma “indústria de multas ou de infrações”. O jornalista explicou que o objetivo do documentário não é oferecer soluções para o trânsito, “tarefa que cabe a especialistas”. A proposta, segundo ele, é denunciar que boa parte dos condutores em Feira de Santana é composta por “infratores contumazes, prejudicando quem cumpre a lei e contribuindo para acidentes que resultam em mortes e feridos”.
No documentário, Edson Borges questiona se é correta a recorrente queixa de que existe uma “indústria de multas” em Feira de Santana. A arrecadação, segundo ele, não acompanha o volume de infrações. Com uma frota estimada em 350 mil veículos, o município arrecada R$ 8 milhões por ano em multas. No Paraná, que possui frota semelhante, a arrecadação em 2024 foi de R$ 48 milhões. Já Aracaju, com cerca de 86 mil veículos a mais, recolhe R$ 19 milhões por ano.
“O que vemos diariamente em Feira é uma rotina de infratores, na qual a imprudência é encarada com naturalidade”, afirmou. Ele citou exemplos como a rua São Domingos, que é mão única, mas motoristas trafegam na contramão, “como se fosse normal”. “Para muitos, o que importa é a vontade própria, não a regra”, completou.
Na avenida Ayrton Senna, uma das mais movimentadas do município, ele apontou que o meio-fio foi destruído porque o local virou retorno improvisado por motoristas e motociclistas, mesmo havendo sinalização indicando um retorno a apenas 100 metros. Já no Anel de Contorno, o documentário mostrou que uma faixa de pedestres passou a ser usada pelos condutores como retorno. Na rua Frei Aureliano, no bairro Capuchinhos, o vídeo flagrou motociclistas trafegando pela calçada “tranquilamente”.
IMPRUDÊNCIA E DESRESPEITO
Semáforos bloqueados e avanço do sinal vermelho também são situações registradas com frequência nas avenidas da cidade. “A imprudência e o desrespeito resultam em acidentes que vitimam pessoas diariamente”, afirmou o jornalista. Ele destacou que o Hospital Geral Clériston Andrade (HGCA) é referência no atendimento a acidentados, cenário que atualmente supera casos de violência por arma de fogo ou faca. De acordo com a diretora da unidade, Cristiana França, quase 80% das vítimas atendidas são motociclistas.
No documentário, o ortopedista José Adson Rubem reforçou que o custo do atendimento aos acidentados é muito elevado para o sistema de saúde e afeta diretamente a economia, já que a maioria das vítimas tem entre 20 e 30 anos, faixa etária mais produtiva. “Muitos ficam afastados por meses e outros acabam se aposentando por invalidez”, disse.
Na produção audiovisual, Edson Borges destaca que em 2024, o SAMU registrou 1.940 acidentes envolvendo motocicletas, média de 162 por mês. Já no primeiro semestre de 2025, foram 1.272 acidentes, elevando a média para 212 por mês. Além disso, somente nos primeiros seis meses de 2025, o SAMU atendeu vítimas de 249 colisões entre motocicletas.
Segundo dados da Coelba, Feira de Santana lidera, na Bahia, o número de acidentes envolvendo postes: foram 30 registros apenas nos quatro primeiros meses de 2025. Edson Borges finalizou ressaltando que o documentário Indústria de Infratores teve exibição inédita na Câmara Municipal.
Fonte: Câmara de Feira de Santana


