A ‘ferocidade’ que levou um notável feirense à intendência municipal

Na infância apelidado de ‘feroz’ pelos colegas de escola primária, devido à determinação e à coragem empregadas em tudo que fazia, o garoto do bairro Baraúnas, filho de agricultores, ganhou o sobrenome Froes do casal português, dono do armazém onde ele obteve o primeiro emprego em São Gonçalo dos Campos. O sotaque lusitano mudava o feroz para algo parecido com ‘fros’ ou ‘froes’. E assim foi registrado o feirense Agostinho Froes da Mota, que apesar do pouco estudo foi um dos mais destacados comerciantes locais e Intendente (prefeito), pontuando sua administração com relevantes realizações.

Decidido, dinâmico, rápido em tudo que fazia, dava a impressão de ser bravo, feroz, de tal modo que na escola primária em São Gonçalo dos Campos, única que ele frequentou até o terceiro ano primário, ganhou dos colegas o apelido de ‘feroz’. Na época apelidos eram comuns, quase todas as crianças ganhavam apelido da família, dos colegas, nos jogos de futebol. A americanização não havia invadido a cultura tupiniquim, e só muito raramente, e quando era depreciativo, é que alguém reclamava do apelido. E nesse caso era pior porque o cognome pegava mesmo. Assim, quando ele, já rapazinho, foi trabalhar no armazém de um casal lusitano em São Gonçalo, passou a ser Agostinho ‘foroz’ ou ‘froes’, de acordo com a pronúncia do casal com o sotaque bem português. Resultado: o jovem nascido no tradicional bairro das Baraúnas, filho do casal de agricultores José Tertuliano Borges da Motta e Maria José de Jesus Aguiar, tornou-se Agostinho Froes da Motta.

E o ‘feroz’, assim adicionado ao seu nome verdadeiro, tornou-se uma espécie de prêmio, ou um reconhecimento à sua perseverança e dedicação a tudo que fazia, e de tal modo isso foi importante que ele registrou oficialmente o Froes. Quando, em 1875, contraiu matrimônio com a jovem Maximiana de Almeida Pinto, filha do fazendeiro Tertuliano Almeida, de tradicional família feirense, ela também ganhou o Froes. Considerado inquieto, sempre operoso e diligente, Agostinho adquiriu forte conceito na comunidade e, apesar do pequeno tempo de estudo que desfrutou, tinha grande facilidade para conversar e resolver pendências com impressionante brevidade.

A natural vocação para o comércio projetou-o rapidamente, colocando-o como um dos principais negociantes da cidade. Essa qualidade levou-o ao plano político, que buscava atrair pessoas de nome já referendado pela comunidade para as agremiações partidárias existentes. Em 1915, aos 59 anos de idade, já com o título de ‘coronel’ e ampla experiência, Agostinho Froes da Mota foi nomeado Intendente de Feira de Santana para governar o município no período 1915/1920, quando a população local era estimada em 70 mil habitantes. O sistema de eleição havia sido extinto e ele foi escolhido pelo governo do estado para o cargo, exatamente pelo prestígio que desfrutava na comunidade. Foram governadores da Bahia na época, José Joaquim Seabra (1912/1916) e Antônio Ferrão Moniz de Aragão (1916/1920). Foi desenvolvimentista a gestão do experiente comerciante, sendo atribuída a ele a construção do coreto da praça da Catedral, inclusive com a inclusão de recursos do seu próprio bolso, e a construção da Escola Primária José Joaquim Seabra, depois transformada em Escola Normal Rural, hoje Centro Universitário de Cultura e Arte (CUCA).

A edificação das escolas Maria Quitéria (para meninas) e João Florêncio (para rapazes) também foi feita no seu governo, quando a rede pública de educação foi muito fortalecida. Vale lembrar que o prédio da Escola João Florêncio, na Avenida Senhor dos Passos, hoje Arquivo Público Municipal, já foi Delegacia Escolar e Coordenadoria Regional de Educação. Em 1919 ele construiu o coreto da Praça Agostinho Froes da Mota, em frente ao seu palacete residencial, de extremo bom gosto, hoje sede da Fundação Senhor dos Passos. Na praça há um busto seu. Antes esse logradouro público fora denominado Praça Coronel Argolo. Durante a administração de Agostinho Froes da Mota foi construída a Ponte do Rio Banco, sobre o Rio Jacuípe (há muito desaparecida), que teve importância fundamental na ligação de Feira de Santana com diversos municípios como Ipirá, Itaberaba, Rui Barbosa, antes da construção da Estrada do Feijão. Essa obra, embora não sendo da esfera municipal, marcou a sua administração.

Agostinho Froes da Mota foi provedor da Santa Casa de Misericórdia, presidiu o Monte Pio dos Artistas Feirenses e o Conselho Municipal. Além de forte comerciante, foi pecuarista e um dos mais importantes nomes no ciclo do fumo, como representante da firma Luiz Barreto e Companhia, que tinha sede em Salvador. Embora católico e contribuinte das obras religiosas, o ‘coronel’ Agostinho era membro do movimento maçônico nesta cidade, integrando a Loja Maçônica Caridade Segredo Feirense, a primeira aqui instalada em 1885. Na época a Igreja Católica olhava com muita reserva a maçonaria, mas o benquisto padre Tertuliano Carneiro da Silva, que era da família, sabiamente sempre preservou essa opção do sobrinho sem criticá-la. Agostinho Froes da Mota nasceu em 4 de maio de 1856 e faleceu no dia 22 de abril de 1922, aos 66 anos de idade.

Por Zadir Marques Porto

Fonte: Prefeitura de Feira de Santana

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