Em 1948, Dourival Oliveira, voz belíssima, gravou em um só dia 25 músicas de compositores feirenses para a Micareta daquele ano. A festa foi um sucesso e, muito motivado, Pedro Matos implantou a Rádio Sociedade de Feira. Ao que tudo indica, Dourival estabeleceu um recorde, mas, lamentavelmente, nada foi preservado.
Considerado um dos melhores comentaristas esportivos do rádio baiano, tendo integrado durante muito tempo a equipe especializada da Rádio Sociedade de Feira de Santana, inclusive na cobertura da Copa do Mundo — na Espanha e na Itália —, Dourival Costa Oliveira, carinhosamente tratado como Dôca, ocupou lugar de destaque no rádio feirense de forma ampla, também como locutor comercial, apresentador e noticiarista. Todavia, esse competente funcionário do Estado na Secretaria da Fazenda viveu uma interessante história na comunicação, pouco convencional e quase desconhecida pela maioria.
Barítono natural, de voz poderosa e melodiosa, Dourival cantava com amigos e seresteiros da cidade quando Pedro Matos, fundador da Rádio Sociedade de Feira, mas na época ainda proprietário de potente serviço de alto-falantes, com seu espírito empreendedor, resolveu que a Micareta da Princesa deveria ganhar identidade própria com uma trilha musical produzida por autores da Cidade Princesa, em lugar das músicas carnavalescas “importadas” do Rio de Janeiro. Para isso, contava a cidade com bons poetas e compositores como: Homero Figueiredo, Romário Braga, Aloísio Resende, Juca Oliveira, Tertuliano Santos, Elisário Santana, Adalardo Barreto, Delorizando Bastos, Humberto Alencar, Carlos Marques, Estevão Moura, Anacleto Carvalho, como também Pedro Matos que, além de gráfico, alfaiate, político e desenhista, gostava de escrever e fazer versos.
Assim, em 1948, Dourival Oliveira viajou para Salvador com uma pilha de composições autenticamente feirenses e a missão de gravá-las para a festa que se avizinhava. Nada menos que vinte e cinco músicas teriam de ser registradas em disco. A tarefa, que mesmo na época atual, com a avançada tecnologia, deveria demorar dias, foi feita de forma heroica, pode-se dizer assim, em poucas horas, nos estúdios da Rádio Sociedade da Bahia. Com a bandinha da emissora da capital, lembrava Dôca: “eu cantava a primeira vez, como ensaio. Na segunda vez, gravava”.
Em um só dia — manhã e tarde —, ele cantou 50 vezes, um verdadeiro recorde. Foram feitos 13 acetatos (discos de cera de carnaúba) com duas músicas em cada um e, para completar o último, o cantor Bob Pixinguinha gravou uma música sua. O sucesso foi muito grande na Micareta de 1948, uma festa “absolutamente nossa”, comemoraram foliões. Como ainda não havia emissora de rádio na cidade — a primeira só seria inaugurada no dia 7 de setembro do mesmo ano (a Rádio Sociedade de Feira) —, portanto após a festa de Momo, o empreendedor Pedro Matos conseguiu a liberação do aparelho de ondas curtas da Polícia Militar, que foi adicionado ao serviço de alto-falantes. Assim, os donos de rádios (receptores), que eram poucos em Feira, tiveram o privilégio de acompanhar a cobertura da festa de Momo, com a trilha musical nativa (autores feirenses e intérprete feirense).
Lamentavelmente, nenhum dos 13 acetatos foi preservado, nem houve cópias. O mais importante, no entanto, é que, já projetando a implantação de uma emissora de rádio em Feira de Santana — só existiam duas na Bahia, Sociedade e Excelsior, em Salvador —, o determinado Pedro Matos foi ao Rio de Janeiro, que era a Capital Federal, e, ao retornar, trazia os equipamentos para instalar a Rádio Sociedade de Feira. O transmissor pioneiro de 250 watts foi montado no bairro Queimadinha (hoje Rua Aloísio Resende) e os estúdios no Edifício Capirunga, confluência da Rua Monsenhor Tertuliano Carneiro com a Praça Fróes da Mota. Resumindo a história que resultou na fundação da Rádio Sociedade de Feira, Dourival Costa Oliveira, o Dôca, foi o primeiro cantor feirense, pelo menos que se saiba, a gravar. E, mais interessante ainda, é que ele gravou 13 discos com 25 músicas em um só dia!
Por Zadir Marques Porto
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Foto: Divulgação – Arquivo ZMP
