
“A lavagem é a minha força de responder ao racismo religioso.” Foi com essa frase simples, mas poderosa, que a Mameto de Nkisi Maria de Tempo expressou a emoção de viver mais uma edição da Lavagem do Terreiro Banda Lê Koongo. O evento faz parte da programação do Dia Municipal dos Povos de Terreiro, celebrado em Juazeiro no dia 8 de dezembro, data dedicada a Oxum, e foi realizada neste sábado (13) . Em sua 12ª edição, a Lavagem se consolida como um importante ato de fé, identidade, ancestralidade e resistência dos Povos de Terreiro.
Nascida como forma de protesto, a Lavagem do Terreiro Banda Lê Koongo se estabeleceu, ao longo dos anos, como uma voz coletiva contra o racismo religioso, a opressão e o silenciamento histórico das religiões de matriz africana. O cortejo tomou as ruas com beleza e simbolismo, marcado pelas vestes brancas, pelos cânticos, pela força da espiritualidade e pela expressiva religiosidade que sustenta e fortalece essas tradições ancestrais.
De acordo com Omin Ilé, ekedji de Oxum, o projeto da Lavagem do Terreiro Banda lê Koongo foi iniciado como resposta a algumas situações de violência pelas quais o Terreiro passou, além de ser fruto de ações sociais desenvolvidas na casa. “A lavagem é fruto também de uma série de ações que a gente já desenvolve no terreiro. Além de um terreiro que cultiva a ancestralidade e a espiritualidade africana, a gente desenvolve e cuida também da comunidade através de um projeto de ações comunitárias e atividades educativas então a lavagem é um momento de encerramento dessas atividades que a gente realiza durante todo o ano para fortalecimento da cultura e fortalecimento da nossa organização comunitária”, explicou.
A Avenida Principal do bairro Quidé se deparou com um emocionante e forte momento de fé, ancestralidade e força simbólica nesse momento que transformou aquele espaço urbano em território sagrado. Mais do que um ritual, a Lavagem representa encontro, união e fortalecimento coletivo. É também um momento de alegria, entusiasmo e reconexão com a fé, que impulsiona seus participantes a ocuparem os espaços públicos e a afirmarem, em voz alta, o direito de existir, crer e celebrar.
Com a presença de sacerdotes, sacerdotisas, filhos e filhas de Mameto de Nkisi Maria de Tempo, a celebração transmitiu a mensagem de que a Lavagem do Terreiro Banda Lê Koongo permanece viva, pulsante e profundamente enraizada na história e na cultura local.
Nesta edição, o evento também prestou homenagem à resistência das mulheres. Segundo a organização, o momento foi marcado por um forte posicionamento contra todas as formas de violência, especialmente após o recente feminicídio de uma Yao da casa. A Lavagem tornou-se, assim, espaço de denúncia, luto e luta, reafirmando o compromisso com o enfrentamento às violências de gênero, raça e religião.
A celebração reforçou ainda a importância do protagonismo feminino e da transmissão dos saberes ancestrais às novas gerações. Crianças, meninos e meninas foram lembrados como guardiões do futuro dessas tradições, aprendendo desde cedo valores como respeito, liberdade, igualdade e dignidade. A mensagem central ecoou com firmeza: o corpo, a fé e as escolhas das mulheres devem ser respeitados.
Ao apoiar iniciativas como esta, a Prefeitura de Juazeiro, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Social (SEDES), contribui para o reconhecimento dos povos tradicionais e para a valorização de sua contribuição na construção da identidade cultural do município.
Na sexta-feira (12), foram oferecidos diversos serviços para a comunidade, em parceria com a Prefeitura de juazeiro, entre eles: Café da manhã para a comunidade, capoeira para crianças, tenda de redução de danos, testes rápidos para ISTs, vacinação, orientação em saúde da mulher, atendimento socioassistencial, corte de cabelo, penteados nagôs e auriculoterapia.
Fotos: Ana Vitória Nascimento – Ascom/PMJ




