BA.GOV.BR
Internacional

Costa do Marfim e Senegal anunciam fim da presença militar francesa

Planos para 2025 visam reafirmar soberania nacional

03/01/2025 07h01
Por: Redação

Os presidentes da Costa do Marfim e do Senegal anunciaram planos para encerrar a presença militar da França em seus países até 2025. Os líderes buscam afirmar a soberania nacional frente à influência histórica do antigo colonizador na região. 

O presidente do Senegal, Bassirou Diomaye Faye, fez o anúncio em um pronunciamento no último dia do ano de 2024. "Já pedi ao ministro das Forças Armadas que proponha uma nova doutrina de cooperação em defesa e segurança envolvendo, entre outras consequências, o fim de todas as presenças militares de países estrangeiros no Senegal, a partir de 2025", declarou. Ele já defendia o fechamento das bases militares francesas no Senegal. 

Da mesma forma, o presidente da Costa do Marfim, Alassane Ouattara, comunicou a decisão em um discurso de fim de ano. "Nos orgulha nosso exército, cuja modernização já está em vigor. É neste contexto que decidimos pela retirada concertada e organizada das forças francesas da Costa do Marfim", afirmou. Ele acrescentou que a entrega do acampamento do 43º batalhão de infantaria de fuzileiros navais de Port-Bouët às Forças Armadas da Costa do Marfim ocorrerá em janeiro de 2025. 

Com essa decisão, a Costa do Marfim se junta a outros países africanos que também encerraram a presença militar francesa, como Níger, Burkina Faso, Chade e Mali. 

O professor Elídio A. B. Marques, da UFRJ, comentou que as ex-colônias francesas mantiveram uma dependência significativa de Paris, mesmo após suas independências na década de 1960. "Esse poder neo-imperialista se expressou fortemente no campo militar com ‘acordos de cooperação’", explicou. Ele observou que as falhas das intervenções militares francesas nos últimos anos fortaleceram os movimentos nacionalistas na região. 

O pesquisador Bruno Fabricio Alcebino da Silva, da UFABC, destacou críticas à Operação Barkhane, que visava combater o terrorismo, mas resultou em uma escalada de conflitos. "Em vez de reduzir a violência, a operação coincidiu com uma escalada de conflitos armados", afirmou. 

O movimento de saída dos militares franceses é parte de um processo maior de descolonização, onde os países africanos buscam redefinir suas relações com ex-potências coloniais. O professor Marques alertou que a França e outras potências não devem ignorar essas mudanças, enquanto Alcebino da Silva enfatizou que novos desafios surgirão para os países africanos após a retirada das tropas. 

Recentemente, países como Burkina Faso e Níger enfrentaram levantes nacionalistas e formaram alianças para segurança mútua. A Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Ecowas) também ameaçou agir contra o Níger após um golpe militar em julho de 2023. 

Essas movimentações revelam um contexto complexo de disputas por influência e recursos na África, onde novas potências, como China e Rússia, competem com as antigas potências coloniais.

Nenhumcomentário
500 caracteres restantes.
Seu nome
Cidade e estado
E-mail
Comentar
* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou com palavras ofensivas.
Mostrar mais comentários