O cessar-fogo anunciado para o próximo domingo (19) na Faixa de Gaza não deve interromper o projeto da Grande Israel e a expansão dos assentamentos judaicos na Cisjordânia. Essa é a análise do professor Salem Nasser, especialista em direito internacional e Oriente Médio, da Fundação Getulio Vargas (FGV) Direito-SP.
Segundo Nasser, o acordo anunciado por Estados Unidos e Catar foi uma exigência da nova administração americana que assume no dia 20 de janeiro. No entanto, ele alerta que a contrapartida pode ser a ampliação da colonização da Cisjordânia, que abriga mais de 700 mil colonos judeus. "Ninguém acredita mais na solução de dois Estados, um palestino e outro israelense, conforme defende a maior parte da comunidade internacional."
A proposta da Grande Israel, que existe desde o início do movimento sionista, prevê a expansão do país do Rio Nilo ao Rio Eufrates, abrangendo partes de cinco outros países. Embora Tel Aviv não defenda essa proposta abertamente, grupos de colonos e partidos de extrema-direita no país a apoiam.
Em entrevista, Nasser explicou que Netanyahu pode ter sido pressionado a conceder o cessar-fogo, mas exigiu que ele entrasse em vigor um dia antes da posse de Trump. Ele também comentou sobre as possíveis consequências do cessar-fogo, afirmando que até domingo ainda há tempo para que muitos palestinos sejam mortos. "Isso é um sinal de que talvez seja apenas um agrado pontual à vontade de Trump e que talvez não dure muito."
O especialista destacou que a situação da Cisjordânia é muito mais relevante para o projeto de Grande Israel do que uma eventual diminuição da colonização de Gaza. Nasser observou que, mesmo que o Hamas não abandone sua luta, a destruição em Gaza impõe limites ao poder do grupo. "Os palestinos continuarão a sua luta pelo que pensam ser justo."
Em relação ao futuro do conflito, Nasser apontou que não há mais crença na solução de dois Estados, e que a ideia foi, de certa forma, "mortificada". Ele também mencionou que a luta palestina ainda não está enterrada e que a história do conflito continuará a se desenvolver.
Por fim, Nasser comentou sobre o papel dos governos do Oriente Médio no pós-cessar-fogo, afirmando que os países da região só aceitarão normalizar relações com Israel se suas demandas em relação aos palestinos forem atendidas.
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