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Glauco Wanderley

Golpe? Réus falam como se nenhum soubesse de nada

Falta um elo comprovado de Bolsonaro com o 8 de janeiro

11/06/2025 19h54Atualizado há 4 semanas
Por: Redação

Em apenas dois dias, embora a semana inteira estivesse reservada, caso necessário, o STF ouviu todos os oito réus acusados como cabeças de uma tentativa de golpe de estado.

Os depoimentos ontem no STF, diante do ministro Alexandre de Moraes, podem ser resumidos em frases como “golpe, que golpe? era tudo bravata, conversa de bar, eu não participei de nada, ninguém me pressionou, não escutei nada, não vi nada. Esse documento é só um rascunho, essa discussão foi só uma análise do cenário”.

Os réus ficaram dizendo coisas desse tipo. O Mauro Cid, por exemplo, tem uma posição delicada nessa história. Como delator tentando reduzir o castigo, teve que contar algumas coisas que viu e comprometem sim em alguma medida o seu ex-chefe, Jair Bolsonaro e alguns colegas de farda. 

Pra amenizar, tenta caracterizar tudo como bravata dos coleguinhas, que ficavam falando mas na verdade não iriam fazer nada. Que isso é típico do ambiente militar, segundo ele.

Quando se trata de alguma parte mais comprometedora, indicativa da intenção real de virar a mesa para anular a eleição, aí Mauro Cid diz que não viu, que não participou.

Para Bolsonaro, negar algumas de suas piores falas é impossível. Suas ameaças contra a democracia, estão registradas em áudio e vídeo. Por isso, acabou pedindo ao Alexandre de Moraes, desculpas por algumas coisas que falou contra os ministros do STF.

Mas é bem verdade, que Bolsonaro sempre foi assim, sempre disse esse tipo de barbaridade, e na prática não adotou atitudes que confirmem essa disposição de implantar uma ditadura. Ficou tudo só no gogó mesmo.

É inegável que teve a minuta do golpe e uma série de reuniões para discutir como é que se poderia reverter o resultado das eleições, ou adotar um estado de sítio ou estado de defesa. Mas nada disso foi posto em prática. Mesmo que fosse, em princípio, são medidas que constam na Constituição, para situações específicas. Foram analisadas, foram tentadoras, podemos até dizer isso, mas na prática, nada se concretizou.

O episódio mais grave dessa história toda é o quebra-quebra nos três poderes, no dia 8 de janeiro de 2023. No qual ninguém conseguiu demonstrar até hoje a participação direta ou ativa de Bolsonaro. Que nem era mais presidente e não estava no Brasil. No dia da confusão, demorou um pouquinho além do recomendável, mas soltou uma nota condenando a forma como se deu o protesto. Um protesto onde não existia uma liderança política sequer que se possa apontar como responsável de alguma maneira.

Antes, logo após a derrota na eleição, quando caminhoneiros andaram fechando estradas, Bolsonaro gravou um áudio pedindo o desbloqueio. Teve até caminhoneiro que duvidou, dizendo que era um áudio do humorista Marcelo Adnet, imitando o então presidente.

Depois dos depoimentos de ontem, fica a expectativa sobre quando o julgamento vai ocorrer. A previsão que vem aparecendo em veículos de mídia nacional é que seja em agosto ou no máximo setembro. Pelo ritmo em que vem andando o processo, eu arriscaria agosto.