Semana do MP – Historiadora Mary Del Priore discute desafios do envelhecimento no Brasil

“O Brasil é um país que ficou velho antes de ficar rico. Precisamos pensar no futuro do país e agirmos em conjunto para garantir condições dignas às próximas gerações. Ser velho hoje no Brasil é aprender a ter coragem”, ressaltou a historiadora Mary Del Priore em sua palestra ‘Uma história da velhice no Brasil’, durante a Semana do MP 2025, no CAB. A palestra levou o nome do livro da historiadora lançado no início de novembro. Ela destacou a evolução das percepções sociais sobre o envelhecimento da população e os impactos demográficos na sociedade brasileira. O painel teve a coordenação do promotor de Justiça Rogério Queiroz, coordenador do Centro de Apoio Operacional dos Direitos Humanos (CAODH), e contou com a participação dos procuradores de Justiça aposentados Leonor Salgado Atanázio e José Marinho das Neves Neto.

Em sua exposição, Mary Del Priore destacou a relevância do debate diante do envelhecimento acelerado da população brasileira, evidenciado pelos dados do Censo 2023 do IBGE, que revelou que o número de pessoas com mais de 65 anos aumentou 57,4% e alcançou 22,2 milhões de brasileiros, o equivalente a 10,9% da população. “Em 30 anos, teremos mais velhos que jovens no Brasil”, afirmou. A historiadora descreveu como a figura da pessoa idosa passou a ocupar novos espaços no final do século XX, impulsionada pela ampliação de direitos, pelo fortalecimento de políticas públicas e por mudanças no mercado de consumo. Também chamou atenção para desafios atuais como a solidão, a falta de afeto e as transformações familiares, além do crescimento da violência contra idosos no ambiente doméstico.

“O que tá faltando no cuidado com os velhos é afeto, amor, paciência e companheirismo. Aqueles que estão em casa com os velhos, se não estiverem bem emocionalmente e estruturalmente, vão descontar seus ressentimentos nos idosos, e isso pode aumentar a violência contra os mais velhos”, ressaltou. Ela complementou também sobre a necessidade de discutirmos as consequências do envelhecimento da população e qual o futuro que desejamos para nossos filhos e netos. “Precisamos nos responsabilizarmos. Não só pelos nossos velhinhos, mas precisamos pensar no futuro dos nossos filhos e netos. A questão que não quer calar é – os jovens querem trabalhar com os velhos, ou o idadismo vai ser mais forte e os velhos vão ter que trabalhar entre eles?”, destacou.

A procuradora de Justiça aposentada Leonor Salgado ressaltou sobre a necessidade de se discutir que há duas realidades sociais de idosos bem diversas no país. “Uma é a velhice bem assalariada, outra é a grande maioria de mal empregados, que muitas vezes precisam sustentar uma família inteira”. Leonor Salgado destacou que o Brasil precisa de políticas públicas estruturadas para atender essa parcela da população que carece, por exemplo, de atendimento médico e bons hospitais. Para o promotor de Justiça Rogério Queiroz essa reflexão sobre o envelhecimento da população é muito importante para todos que atuam no serviço público “para que possamos atender a todos com dignidade”.

Logo depois, o procurador-geral de Justiça Pedro Maia assinou o ato de criação do programa ‘Mais Viver’, que surgiu a partir da necessidade de discutir e estimular a preparação de membros e servidores para a aposentadoria. De acordo com o promotor de Justiça Fernando Mário Lins Soares, o programa foi desenvolvido durante as reuniões do GT que contou com a participação de integrantes do MPBA, da Associação do Ministério Público do Estado da Bahia (Ampeb) e do Sindsemp. “Nós sabemos do impacto da aposentadoria na vida dos trabalhadores e esse programa foi criado para discutir esses desafios e os direitos que cada um terá ao se aposentar”, afirmou o promotor de Justiça.

Painel sobre evidências digitais e realidade sintética

A programação seguiu com o painel “O fim da certeza visual – Como o MP pode garantir a verdade na era da realidade sintética”, que discutiu os desafios impostos pela inteligência artificial generativa à obtenção e validação de provas. O encontro teve participação do promotor de Justiça João Paulo de Carvalho da Costa, coordenador do Núcleo de Combate aos Crimes Cibernéticos (Nucciber), ao lado do especialista em forense digital Patrick Oliveira.

Os palestrantes apresentaram os riscos associados à produção de conteúdos sintéticos hiper-realistas, como vídeos artificialmente construídos, áudios clonados e imagens manipuladas. Também abordaram impactos diretos na atividade jurídica, incluindo o risco de manipulação de fatos por meio de provas digitais, a contestação estratégica de registros autênticos e as novas dificuldades enfrentadas pelas perícias. Durante o painel, foram expostos os principais pontos de atenção relacionados à fragilização do princípio da verdade real e ao uso de tecnologias avançadas por organizações criminosas para fins de fraude, extorsão e manipulação em larga escala.

Fotos: Sérgio Figueiredo

#BAHIA

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