
A participação do Território de Identidade Vale do Jiquiriçá na 16ª Feira Baiana da Agricultura Familiar e Economia Solidária marca um momento histórico para a agroecologia na Bahia. Pela primeira vez, os 20 municípios do território estão representados no evento, reunindo 170 empreendimentos, 865 produtos agroecológicos e envolvendo diretamente 1.238 pessoas no processo produtivo.
Em 2025, o Vale do Jiquiriçá participou com 11 empreendimentos e 124 produtos. Nesta edição, o número de itens apresentados teve um crescimento de quase 700%, resultado da organização e articulação liderada pela Associação Agroecológica da Jaqueira e pelo Centro Público de Economia Solidária (Cesol) junto às gestões municipais e empreendimentos da zona rural do território.
De acordo com o coordenador do Cesol do Vale do Jiquiriçá, Daniel Oliveira, membro da Associação Agroecológica da Jaqueira e do Colegiado Territorial, esse ano foi realizada uma grande caravana para mobilizar os municípios. “Percorremos todas as cidades, dialogamos com os empreendimentos, destacamos a grandiosidade da feira e conseguimos trazer o território completo”, comemorou.
Os números mostram a força do Vale do Jiquiriçá na feira: conta com a participação de quatro cooperativas e 16 associações, 46% dos empreendimentos da zona rural, 86% de mulheres, e 76% delas negras.
O território lidera a 16ª Feira da Agricultura Familiar em diversidade produtiva, com os 865 itens catalogados. “O segundo território com mais produtos trouxe 200 itens”, observou Daniel.
Entre as novidades apresentadas nesta 16ª edição da feira, estão produtos identificados durante o processo de escuta e mapeamento realizado nos municípios. O público encontra itens como vinagre de banana, chocolate com jaca, café com cacau e sequilhos com araruta.
Segundo a coordenadora da Associação Agroecológica da Jaqueira, Crys Rios, também coordenadora do Colegiado Territorial do Vale do Jiquiriçá e agente nacional da Economia Solidária vinculada ao Programa Paul Singer, da Senaes/MTE, a feira é uma vitrine estratégica para consolidar identidade, organização e sustentabilidade. “A partir do sucesso do ano passado, nos organizamos enquanto território, enquanto sujeito político, para que as pessoas se enxergassem como parte da economia solidária e reconhecessem a potência da sua própria produção”, explicou.
A articulação resultou ainda na criação da Espiral Agroecológica de Mulheres, que hoje reúne cerca de 400 mulheres, impulsionando a produção em escala e garantindo protagonismo feminino. O território também recebeu, durante o evento, a Certificação Orgânica Participativa da Rede de Agroecologia Povos da Mata, fortalecendo os processos produtivos dos 20 municípios que compõem uma população estimada em 303 mil pessoas, majoritariamente rural, negra e feminina.
Logística inédita e organização coletiva
A participação do Vale do Jiquiriçá foi marcada por uma logística inédita no estado com a realização da caravana e busca ativa dos empreendimentos e suas produções. Depois de passar por todos os municípios, os empreendimentos se reuniram no maior encontro da história regional da economia solidária e da agricultura familiar da região, em Amargosa.
Para a participação na feira em Salvador, também houve organização para a coleta dos produtos em cidades estratégicas, garantindo inclusão de produtores de baixa renda. “Isso nunca foi feito na Bahia. Fomos em busca dos empreendimentos, cadastramos pessoalmente, organizamos a coleta, catalogamos, etiquetamos os produtos e implantamos um sistema de venda coletiva”, ressaltou Daniel.
Hoje, o território ocupa cinco estandes na feira, entre eles o Tudo Vegano, na Praça Gastronômica, que retorna nesta edição após grande sucesso em sua primeira participação em 2024.
No espaço, o público encontra um cardápio baseado em ingredientes integrais, agroecológicos e 100% veganos, valorizando a sociobiodiversidade do Vale do Jiquiriçá. Entre as opções estão refeições como maniçoba, moqueca de jaca, feijoada vegetal e yakissoba, além de lanches salgados e doces à base de jaca, cacau, licuri, aipim e frutas regionais.
As bebidas incluem mel de cacau natural, sucos com mel de cacau e kombuchas artesanais. A proposta alia alimentação saudável, sustentabilidade, geração de renda e valorização dos saberes tradicionais.
“A Febafes não é só um espaço de venda. É um espaço de construção de conhecimento, de sociabilização, de valorização do que produzimos na roça, no campo, nos equipamentos produtivos que também são fruto das políticas públicas da SDR e da CAR”, reforça Crys.
Os produtos do Vale do Jiquiriçá já estão presentes em outros canais de comercialização, incluindo espaços virtuais, como o site da Jaqueira e do Cesol, e loja física no Largo 2 de Julho. Também, semanalmente, pode ser adquirido na feira realizada aos sábados no condomínio Vila Anaití, bairro do Imbuí, na Praça Miriam Fraga, no Itaigara.
Para 2027, o Território do Vale do Jiquiriçá já planeja novidades como aprimorar a rotulagem, identidade visual, qualidade dos produtos e novas iguarias. “Nosso carro-chefe é a diversidade, que é um princípio da agroecologia. Ano que vem estaremos ainda mais organizados”, concluiu Daniel.




