Violência nos estádios é debatida no MP da Bahia

Fatores que contribuem para episódios de violência nos estádios e estratégias de prevenção foram debatidas hoje, dia 5, durante seminário promovido pelo Ministério Público do Estado da Bahia. A Instituição reuniu especialistas, representantes do Poder Público, de clubes de futebol, de entidades e torcidas, além de profissionais da imprensa para debater o problema da violência. O evento, afirmou o procurador-geral de Justiça Pedro Maia, “é uma reafirmação de que a pauta da violência no futebol deve ser erradicada e de que o MP está comprometido, reunindo todos os atores na sua casa para dialogar e construir um novo caminho”. Ele frisou que “O MP baiano está pronto para construir BA-VIs de paz”. Durante o evento, foi assinado Termo de Cooperação Técnica entre o MPBA, a Federação Bahiana de Futebol (FBF), o Esporte Clube Bahia, o Esporte Clube Vitória e o Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia (Irdeb) para a divulgação de campanhas de interesse público em espaços e meios de comunicação das entidades parceiras, incluindo estádios e canais oficiais.

Idealizadora do evento, a promotora de Justiça que coordena o Centro de Apoio às Promotorias de Defesa do Consumidor (Ceacon), Thelma Leal, lembrou que falar de torcida de futebol é falar de emoção, sentimento de pertencimento, força que move, direciona, empolga, mas que infelizmente, às vezes, é “também falar de violência”. Ela destacou que “o esporte é um dos maiores símbolos da paixão, superação e união. No entanto, vimos uma escalada preocupante de violência, não dentro dos estádios, que já conseguimos superar, mas nos seus arredores, em locais distantes”. “É inaceitável que o esporte, que deveria ser um espaço de inclusão e respeito, torne-se palco para agressão e ódio”, frisou, afirmando que isso é reflexo de uma cultura que valoriza a agressividade e a competitividade acima da ética e do respeito. A promotora de Justiça se mostrou a favor da presença da torcida visitante nos clássicos BA-VI, mas disse que, antes, é preciso organizar a casa e deixá-la segura para receber os visitantes, conclamando todos a

trabalharem juntos para criar um ambiente esportivo que promove “a inclusão, a diversidade e o respeito’.

O vice-presidente da Federação Baiana de Futebol (FBF), Manfredo Lessa, participou do evento e destacou a importância das torcidas organizadas no seminário. Ele lamentou o fato do futebol ter-se tornado “vítima da mazela que é a violência social” e reforçou que “todos temos a obrigação de trabalhar contra essa violência”. Para Manfredo Lessa, “sob a ótica do futebol como espetáculo, a torcida única é uma grande depreciação. Mas ela, infelizmente, tornou-se necessária”. O desembargador Lidivaldo Britto também participou da mesa de abertura do evento e palestrou no painel ‘Análise das causas psicológicas e sociológicas da

violência nos estádios/ Racismo’. Ele apresentou uma linha histórica do futebol, explicando que o esporte nasceu logo após a Proclamação da República e abolição da escravatura com um traço “extremamente elitista, onde os negros não podiam participar”. “O futebol distensionou o racismo com Pelé”, lembrou o desembargador, afirmando que o racismo nunca esteve totalmente fora do esporte e é uma das violências que têm crescido na Europa e chegado ao Brasil. Ele lembrou que poucos árbitros, técnicos e presidentes de clubes de futebol são negros e “isso reflete o racismo estrutural”.

Também participou do painel o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Nicolas Cabrera, que é co-fundador do Observatório Social do Futebol. Ele compartilhou resultados de uma pesquisa sobre ‘Violências e políticas de segurança no futebol

brasileiro – uma análise dos casos registrados em 2023-2024’, indicando que, nesses dois anos, foram registradas no Brasil mais de 60 mortes vinculadas ao futebol. Foram 158 casos de violência em 2023 e 303 no ano de 2024. A maioria desses casos ocorreu em São Paulo e Rio de Janeiro, disse ele, citando como fonte notícias veiculadas na imprensa. Outro dado apresentado foi de que mais da metade dos casos de violência ocorreram fora dos estádios.

O promotor de Justiça Saulo Mattos foi mediador da palestra e destacou a importância do debate que também se fez com evidências científicas apresentadas pelo Observatório. Ele ressaltou que o futebol é atravessado por diversas violências, como a de raça e de gênero. Destacou a importância da educação para a prevenção e o combate, sinalizando que, com uma formação que não pensa a possibilidade de inclusão, não se consegue desenvolver uma cultura de paz. Também foram apresentados painéis sobre o ‘Impacto

na segurança dos torcedores e dos jogadores’; ‘Consequências econômicas e financeiras para os clubes e as ligas, efeitos na imagem e reputação dos clubes e esporte em geral’; ‘Medidas de segurança nos estádios, incluindo tecnologia de vigilância e controle de acesso’; ‘Ações preventivas desencadeadas pelo Bepe em eventos futebolísticos’; ‘Análise de casos de sucesso. Aplicação de modelos de gestão de violência’. Além disso, foram apresentados os líderes das principais torcidas.

O painel sobre ‘O papel dos meios de comunicação no combate à violência nos estádios’ trouxe reflexão sobre a narrativa que reproduz e reforça a violência vivenciada nos estádios e fora deles. O treinador e ex-jogador Preto Casagrande, o jornalista e coordenador na Rede Bahia, o comentarista na Rádio Sociedade e na TV Aratu Caio Leony, o jornalista da TVE Rodrigo Araújo

participaram do painel, que teve a mediação do assessor de imprensa do MPBA, o jornalista George Brito. Todos destacaram a necessidade de uma comunicação que não espetaculariza temas degradantes dentro do esporte e falaram sobre a relevância das torcidas organizadas, do trabalho social que fazem e do espetáculo que criam no futebol. Participaram ainda da mesa de abertura do evento o presidente da Associação dos Membros do Ministério Público do Estado da Bahia (Ampeb), promotor de Justiça Lucas Santana; superintendente do Procon, Tiago Venâncio, representando o governo do Estado; coronel PM, Ricardo Santana, representando o comando-geral da Polícia Militar; presidente da Comissão Permanente de Prevenção e Combate á Violência nos Estádios (Copreve), promotora de Justiça do Rio de Janeiro Glícia Viana.

Fotos: Adriano Cardoso

#BAHIA

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